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“O karatê salvou minha vida!”, atletas acima dos 40 anos falam sobre a prática esportiva

  • Kelvyn Henrique
  • 19 de out. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de jan. de 2021


A dupla segue firme nos treinos mostrando que não tem espaço para o preconceito no karatê

Peruíbe, 6h da manhã. O dia começa para Janete Bonilha Muniz, 58 anos. Após levantar e preparar o café, ela leva o neto, João (10 anos), para a escola. Na volta, cuida dos afazeres da casa e passa o resto do dia trabalhando na pousada que administra. Às 18h30 ela finaliza mais um dia de trabalho duro e sai.

De forma semelhante, Aparecida de Fátima Lara, 59 anos, a Cida, tem uma rotina intensa onde também cuida do neto, Mateus (9 anos), da casa e dos doces que prepara e vende. Depois das 18h, ela e Janete se encontram, ambas com seus netos.

Para Viviane Roque Cavalcante, 43 anos, a rotina começa com uma caminhada de uma hora e meia na praia ao lado do marido. Durante o dia ela cuida da casa e trabalha com cones trufados que ela mesma faz. Por volta das 18h, ela e o filho, Pedro (10 anos), se arrumam e saem em direção ao Centro da cidade.

Além da rotina cheia durante o dia, e o zelo na criação dos netos e filhos, essas três mulheres também têm outra coisa em comum: nas terças e quintas, das 19h às 21h, elas deixam de lado a rotina de mãe/avós, donas de casa e empreendedoras, vestem o karate-gi (vestimenta do karatê popularmente conhecida como kimono), amarram as faixas na cintura e se tornam atletas.

Janete foi professora de dança do ventre por 10 anos. Quando parou com a dança, passou a procurar por uma nova atividade física. Foi então que o filho, que é professor de boxe, sugeriu o karatê. Indo na contramão do que normalmente acontece, ela decidiu começar a treinar e trouxe junto o neto.

Dificuldades iniciais

“Estranhei um pouco porque saí da dança para as artes márcias. O início foi um pouco difícil, mas logo comecei a gostar”, conta Janete.

A maior dificuldade para ela foram os katas, que exigem muito do atleta, como postura e foco dos pés à cabeça. “Os movimentos na dança são mais delicados em comparação com os dos katas. Mas com o tempo deu tudo certo”.

Atualmente na faixa laranja (5º kyu), Janete pretende trazer mais um membro da família para o karatê. “Estou tentando encaixar minha neta de 5 anos. Ela mora em São Paulo, mas o que eu aprendi tento passar para ela. É importante as pessoas saberem se defender e aprender sobre o respeito, trabalhar o caráter e a disciplina. Assim como trabalhamos isso no karatê”.

Para o karatê não existe limite de idade! Atletas dos 5 aos 80, 90 anos treinam juntos no mesmo tatame e dividem as experiências. Para a faixa vermelha Cida, isso foi algo importante que notou e a fez tomar gosto pelo esporte.

“É um ambiente acolhedor! Devido a minha rotina, não tenho tempo para outras atividades físicas como caminhar e não me sentia à vontade para ir à uma academia, então a convite da Janete vim conhecer o karatê e me senti bem aqui”, conta.

O ambiente de respeito entre os praticantes, como entre os professores e alunos também foi essencial para a adaptação. “Os mais jovens tratam bem os mais velhos. Nos ajudam quando temos dificuldade em algo e os professores não chamam a atenção com broncas ou de maneira que faça algum aluno se sentir mal. Todos se respeitam”.

Salvação

No caso de Cida, a prática do karatê foi também uma salvação. “O karatê salvou minha vida! Estava sedentária e sem tempo para praticar exercícios, devido a rotina atarefada do dia a dia, e tinha dores intensas no corpo. Não conseguia abaixar e levantar direito e todos os exames não mostravam qualquer problema. Tomava remédios, mas a dor persistia. Vim para o karatê a convite da Janete e aos poucos fui fazendo os exercícios e notando a melhora”, revela.

Cida conta que estar atenta ao próprio limite ajudou a ter um melhor resultado durante a prática dos exercícios. “De início tive dificuldade nos exercícios porque tentei fazer tudo de uma vez, mas vi que tudo tinha um limite e fui ‘devagarinho’ e sentindo uma melhora tremenda! Já conseguia levantar e abaixar sem dores”.

A inspiração nas avós levou João e Mateus ao tatame

Viviane foi a última das três a começar a treinar. Também na faixa vermelha (6º kyu), ela veio a procura de um esporte para o filho após ele sair da natação. “Vim até o Departamento de Esportes e lembrei que meu irmão treinou karatê quando era criança e decidi matricular o Pedro. Após um tempo, com incentivo da Cida e da Janete, resolvi sair do banco e treinar também!”, relembra Viviane.

Melhoras com a prática esportiva

O karatê trouxe melhoras não só para Viviane, mas também para Pedro, principalmente na sociabilidade com os colegas. “Os exercícios de lateralidade foram muito importantes, porque é um ponto que está em desenvolvimento nele. Ele sempre teve dificuldade em fazer amizades, mas aqui ele se soltou mais. A disciplina durante os treinos também ajudou e o tornou mais centrado e a manter o foco, tanto nos treinos como na escola”.

Karatê trouxe melhora no condicionamento físico de Viviane e na sociabilidade de Pedro

Todas perceberam melhoras na condição física após a prática do karatê. “Melhorou os problemas de coluna que tenho, como atividade aeróbica, e também o condicionamento físico”, conta Viviane.

Para Cida, além de aliviar as dores que a incomodavam, o karatê também ajudou na redução de peso. “Estava acima do meu peso e com a prática dos exercícios emagreci 10 kg e isso também foi um grande benefício”.

Com Janete, que sempre teve a vida ligada as atividades físicas, a mudança veio mais no caráter marcial. “Aumentou a minha resistência, força e agilidade, que são características comuns para quem pratica artes marciais”.

Servindo de fontes de inspiração para todas as idades, estas mulheres seguem seu próprio ritmo e mostram que nunca é tarde para a prática saudável de esportes e mostram que as lutas diárias e contra o preconceito são maiores que as lutas nos tatames.

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